Componentes de vinte e uma escolas de samba do Rio de Janeiro partem na madrugada desta terça para a província de San Luis, a 800 km de Buenos Aires, na Argentina, para participar dos desfiles do Carnaval do Rio em San Luis, que acontece na próxima sexta e sábado, dias 8 e 9 de março. Cerca de 40 ônibus deixam a Cidade do Samba às 22h desta segunda, rumo às quadras cariocas, onde embarcam os 1.500 sambistas que cumprirão uma jornada de 55 horas e 3.350 km para levar o gingado do samba a terras hermanas.
Produzido pela Gangazumba Produções, em parceria com a Amebras (Associação das Mulheres Empreendedoras do Brasil) e a Ami-7, o Carnaval do Rio em San Luis acontece pelo quarto ano consecutivo e é o maior desfile de carnaval já realizado por brasileiros fora do Brasil. São dois dias de desfiles, com apresentações de três escolas de samba. Duas delas são formadas por 1.500 sambistas vindos do Rio de Janeiro, e a terceira, por 750 foliões, dos quais 600 são argentinos.
As agremiações brasileiras são montadas com a junção de alas, baterias, baianas, passistas e casais de mestre-sala e porta-bandeira oriundos de vinte e uma escolas de samba do Grupo Especial e de algumas da Série A do Carnaval carioca. Já a agremiação local, batizada de Sierras del Carnaval através de votação popular, foi criada no mesmo padrão das brasileiras e estreou nos desfiles em 2012.
As apresentações brasileiras são embaladas pelas baterias da Unidos de Vila Isabel e da Porto da Pedra, que terão como rainhas Viviane Araújo e Quitéria Chagas, respectivamente. O carnavalesco brasileiro Milton Cunha assina o enredo de uma das escolas brasileiras – tendo como tema o projeto habitacional da província, de nomeVivendas – e o da escola puntana. Já o carnavalesco Jorge Caribé assina o enredo da segunda escola brasileira, cujo tema é Tecnologia em San Luis.
Os intérpretes dos sambas-enredos são Clóvis Pê e Thiago Brito. Para facilitar o canto dos foliões, o compositor Álvaro Luiz Caetano, o Alvinho, criou versões dos sambas da União da Ilha dos carnavais de 1978 (O Amanhã) e 1991 (De bar em bar, Didi , um poeta). Na adaptação, as letras ganham alguns versos em referência aos enredos desenvolvidos por Milton Cunha e Jorge Caribé.
O espetáculo segue o modelo dos desfiles da Marquês de Sapucaí e acontece no autódromo da cidade de Potrero de Los Funes, que teve um trecho de quinhentos metros adaptado para servir de “Sambódromo” (chamado pelos argentinos de “Corsódromo”). Uma plateia de 25 mil pessoas assiste aos desfiles das três escolas em cada noite. Os ingressos variam de $ 30 (trinta pesos argentinos), cerca de R$ 12, nos setores populares, a $ 400 (quatrocentos pesos argentinos), cerca de R$ 155, nos camarotes. O Carnaval do Rio em San Luis já consolidou-se como o principal evento do calendário turístico da província e um dos principais da Argentina, atraindo viajantes de todo o país e América do Sul, principalmente do Chile.
Escola de samba argentina cresceu 50% em um ano – Em seu segundo ano, a Sierras del Carnaval se apresentará com 750 componentes, 50% a mais que no ano passado. “É a primeira escola de samba da Argentina que tem comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, bateria, passistas e samba em português”, explica o carioca Wallace Souza, Diretor Artístico da Sierras del Carnaval. O enredo da agremiação é “Seguimos sonhando”, sobre a candidatura da Cidade de La Punta aos Jogos Panamericanos de 2019. O intérprete do samba é Gilsinho da Portela.
Para o desfile de 2013, 180 argentinos da região tiveram aulas regulares de samba no pé com Wallace Souza, Robson Soares e as mulatas Monalisa Carvalho e Luciana Domingoes. Outros 120 habitantes de San Luis aprenderam a tocar os instrumentos de bateria, sob orientação dos mestres André Henrique e Cláudio Júnior.
A porta-bandeira Elaine Bispo e o mestre-sala Paulo César, da Unidos de Padre Miguel,realizaram oficinas para treinar o primeiro casal formado na província, que fará sua estreia este ano. Por meio de um concorrido concurso, a agremiação elegeu, em fevereiro, sua rainha de bateria, Camila Partenza, de 18 anos. A jovem sambista argentina desfilou como passista no carnaval de 2012 e teve a oportunidade de visitar ensaios de escolas de samba no Rio de Janeiro, onde participou de um intercâmbio cultural coordenado pela Gangazumba Produções, pela Amebras e Ami-7.
Projeto Social – O Carnaval do Rio em San Luis não é apenas um espetáculo de entretenimento ou uma simples exportação do samba brasileiro, como explica Célia Domingues, coordenadora geral da produção brasileira. “O carnaval brasileiro é um importante veículo de inclusão social, pois forma mão-de-obra especializada para os ofícios do carnaval e gera trabalho para pessoas de baixa renda, que normalmente ficariam excluídas do mercado, tanto no Brasil quanto na Argentina, onde já formamos centenas de artesãos, ritmistas e passistas ao longo das quatro edições do evento”, conta Célia, que preside a Amebras (Associação de Mulheres Empreendedoras do Brasil), entidade responsável pelos projetos sociais da Cidade do Samba.
Artesãos brasileiros formados no projeto Carnaval e Cidadania, da Amebras, ensinaram e coordenaram oficinas de adereços e chapelaria na província argentina. Instrutores de samba no pé e de percussão ministraram aulas para 300 argentinos. E cem argentinas trabalharam nos ateliês que confeccionaram todas as 750 fantasias da Sierras Del Carnaval, assim como os carros alegóricos das duas escolas brasileiras e da própria Sierras. A supervisão artística coube ao carnavalesco Milton Cunha.